A Arte de Reler Um Livro

Texto de: Silmara Spoy

Sempre que começamos a ler um novo livro, é muito bom. É como se um outro mundo, desconhecido e inexplorado, abrisse as portas e nos permitisse penetrar seu íntimo, ou como se tivessemos conhecendo alguém que será nosso amigo inseparável por alguns dias, semanas, meses ou até anos. Enfim, ler é ampliar seus horizontes e expandir seus conhecimentos.

Mas, acredito que a sensação de reler um livro é ainda melhor que a de lê-lo pela primeira vez. É como ver um filme repetido na Sessão da Tarde (Rsrss...) ou as reprises semanais do Quinta Categoria (programa apresentado na MTV por Marcos Mion e os Barbixas, que tem três reprises durante a semana. Ao menos até o presente momento).

Quando relemos um livro ou revemos um filme, temos outros olhos, mais críticos e observadores, capazes de perceber as sutilezas até então camufladas ou perdidas no intusiasmo da primeira leitura.

Recentemente reli "Ensaios Sobre a Cegueira", de José Saramago. Um livro perfeito, apesar da leitura difícil, onde o autor não dá nome aos personagens e insere os diálogos dos mesmos ao texto, sem as pontuações costumeiras. Toda essa confusão, típica de José Saramago, torna o ato de ler uma tarefa singular e magnífica.

O livro conta como as pessoas podem se torna horríveis e insanas quando são reduzidas à essência humana. É a história de um mundo onde todos, com excessão de uma mulher (esposa de um oftalmologista, que se encontra ironicamente cego, como os demais), são acometidos por uma espécie de cegueira e passam a viver numa "treva-branca". Partindo daí, tudo vira caos, o mundo já não é mundo e as pessoas são animais.

Ensaios Sobre a Cegueira é uma visão das trevas e uma viagem ao inferno, mas é sobretudo um livro sobre a ética, o amor e a solidariedade. Um livro no qual o autor pretende resgatar o afeto perdido e que permitirá a cada leitor uma experiência imaginativa única.

"Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos"

(Rapariga de Óculos Escuros - Ensaios Sobre a Cegueira)

Escrito por: Junior Santos